
Talvez que o vento forte lá fora tenha saído do meu peito, como que querendo mostrar ao mundo a revolta em redemoinho da minha angustia, uivando a dor que já não cabia no peito ferido e cansado de lutar com a mordaça do silencio.
Por entre o fumo do cigarro que queimava as minhas ultimas esperanças, olhei te numa batalha entre o sentimento que teimava em espelhar-se nos meus olhos e a razão que tudo tentava ocultar com o seu manto de orgulho ferido.
Tentava desesperadamente segurar na memoria a sensação do toque dos teus dedos na minha face, que de tão breve e leve não lhe senti nem a maciez nem o calor. Gesto efémero que a ti te deu a sensação de dever cumprido e em mim deixou o vazio do que poderia ter sido.
A figura recortada na penumbra carrega consigo as memorias de um passado que resiste ao presente não deixando futuro. Figura amada, passado feliz. Figura ausente, presente vazio.
Ali sentada ao abandono do todo o ser, sentia-me encalhada num limbo do tempo que teima em não se definir. A escuridão da noite envolve-me na doce tentação de esquecer enquanto que o vento teima fazer esvoaçar perante mim retalhos da nossa vida, que tal como as folhas ao vento são secos de esperança numa sombra do que foram.
Cansada de boiar no mar das tuas indecisões, vi-te afastar com a indiferença de quem procura o brilho maior de um farol. Já não segues a minha luz e eu naufraga permaneço ilhada em teu redor. Já não imano brilho, escureço…