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Tuesday, January 29, 2008

Inuteis fantasias...


Querida amiga,
Como aperta o coração nesta saudade e nesta angústia da falta de notícias tuas. Difícil controlar esta ânsia da tua chegada que tarda. Resolvi escreve te numa tentativa de desabafo mudo e solitário, pois nem teu riso nem teus sábios conselhos terei em resposta.
Amiga, teus instintos no julgamento do carácter das pessoas continua fidedigno. Confiar desconfiando.
Estarás na disposição de ouvir meus queixumes após tantos avisos vãos teus? Tentarei ilibar me no facto de não tento a tua companhia por perto acedi ás atenções, que nesta turbulenta carência, me pareciam servidas em ouro sobre azul. Sim, sabes de quem falo. Ficamos muito próximos. Calma, não avalies já. Imagina primeiro. Minha vivência domestica cada dia mais violenta, nesse desgaste de infinitas e infrutíferas discussões. Numa troca de insultos cada vez mais impúdicos que laceram a integridade moral. Suportar diariamente essas doses de cicuta infelicidade, que nos desmembra, da força, da coragem, do raciocínio e ainda assim, amputados, sorrir ao mundo, numa vergonha tímida, pedindo desculpas por irmos existindo. E então nos deparamos com alguém, que para alem de ti, querida amiga, nos fala aos nossos incrédulos ouvidos, do nosso tão desacreditado valor. É essa musiquinha de fundo, que nos parece familiar, que nos vai lentamente cativando. Uma musica que nos fala de sonhos, iguais aos que já tivemos, que nos fala de felicidade, igual á que já tivemos, que nos fala de romance, igual ao que já tivemos, que nos fala de amor, igual ao que já tivemos. És testemunha do quanto carinhosamente zombava desse assedio consentido. Passatempo de faz de conta, que por divertidos momentos me anestesiava a realidade. Sim sou culpada de me ter viciado nessa substância que me permitia novamente ter sonhos. Sonhos de uma vivência amada, querida, desejada que nos eleva o ser. Sim fiquei viciada na esperança. As conversas de ontem persistem hoje em projectos de sonhos para amanha. De conversa em conversa de projecto em projecto fui decorando a minha existência, recheada da presença dele. Desejos de carícias ilimitadas em crescendo, partilhados numa troca de olhares arrepiantes de promessas. Acoplado em crescendo a firmeza em dar por findo o cativeiro, numa audácia que, oculta sobrevivia em mim. A convicção da existência da felicidade, que caminhava para mim espelhada na figura, que dia a dia se tornava amada, incutia me a certeza e a persistência na jornada que determinara: dar me uma oportunidade. Organizei na minha mente o que o meu coração já planeara, e numa destemida ingenuidade, descrita num sorriso permanente, ia caminhando debaixo dos primeiros raios de felicidade. Em cada gesto, em cada sorriso, em cada palavra a certeza da entrega que tanto esperava e que me preparava para receber num peito mutilado mas confiante. Vivíamos electrizantes sensações quando o acaso juntava nossas mãos, em toques breves e leves deixando no desejo a promessa de mais. Jogos de sedução e paixão exibidos em olhares cúmplices e lânguidos, acompanhados de carinhosas palavras de compromisso mutuo, de que sempre estaríamos juntos, de que nunca nos magoaríamos, de que seríamos felizes juntos. Ilusório contrato selado num furtivo e repentino beijo que a desesperada vontade roubou e no eco de um “adoro te” murmurado em nossos lábios. Sublime sentir quando em uníssono, que completa a existência nesse reencontro de almas. E é nessa quimera onde adormeço o desgosto do passado, que passo a existir quotidianamente, acarinhando o amanha de nós dois. Sim amiga, fui crédula, numa absurda totalidade, pois tanto os teus conselhos como a minha experiência deveriam ser impeditivos de mais uma desilusão. Dolorosos são meus presentes dias, nesta obrigatória convivência diária, com a presença dele. Não levanto meus olhos em sua direcção pois sei que o meu olhar trará a imagem querida, onde me habituei a refugiar e agora devo permanecer do lado de fora. Olha-lo de longe, sem o poder alcançar, afastados por forçada indiferença, numa imposta antipatia e ainda assim coabitar numa politica profissionalmente correcta. Que faço amiga, a todos os sonhos de amor que acordam ao ouvir a sua voz? Que digo ao meu coração que dispara quando o vejo pela manha e a angustia da ausência das nossas conversas? Como controlar o ciúme do seu riso e da sua atenção dirigidos a outrem? Ter que reprimir a fantasia de nós a que tão afectuosamente me habituei, nos meus momentos a sós, colocando o familiarmente no meu dia a dia, na antecipação de uma vivência a dois, relatadas depois numa aguardada expectativa. A onde outrora existia carinho, aparece agora uma frieza, um cruel comportamento que dói tanto amiga! Indagas o motivo da alucinante reviravolta. Num empolgado entusiasmo e convicta no avanço para uma relação ou talvez a necessidade de um sim, vi me confrontada com um talvez. E a vida de repente se reduz a um punhado de inúteis fantasias.

1 Comments:

Blogger vacamalhada said...

...Suspiro! Hei-de, concerteza voltar.

2:54 PM  

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